terça-feira, 25 de junho de 2013

Afrouxando o Karma

Há um tempo atrás, livros de auto ajuda com conhecimentos supostamente esotéricos estavam na moda. E apesar de toda aquela conversa de "o que importa é viver o Agora, ter a atenção presente", e tal fórmula ser vendida como um grande segredo místico ser bastante Fail por dizer que é apenas isso que importa, as técnicas de auto ajuda funcionam. E existe uma razão para isso.

Apesar de resumirem a prática da meditação ao bem-estar (o que é um problema, e essa questão merece um texto só sobre isso), os autores de auto ajuda tocaram numa verdade. Tanto a nossa percepção do mundo quanto a nossa vontade de agir nele passam por diversos filtros. Filtros esses construídos pelo costume, pelo hábito. Citando Swami Vivekananda, em sua obra intitulada como Karma Yoga:

Se um homem diz frequentemente más palavras, tem maus pensamentos e executa más ações, sua mente estará cheia de más impressões; estas influirão em seus pensamentos e ações sem que ele seja consciente delas. Portanto, estas más impressões atuam continuamente, e o resultado deve ser mau; esse homem tem que ser mau, e não poderá evitá-lo. O produto dessas impressões desenvolverá nele um forte poder que constituirá o motivo de suas más ações; será como uma máquina em mãos daquelas impressões, e estas o obrigarão a praticar o mal.

Da mesma forma, se um homem tem bons pensamentos e pratica boas ações, a soma total dessas impressões será boa, e o levará a praticar boas ações, talvez mesmo inconscientemente. Quando um homem praticou certo número de boas obras e teve bons pensamentos, experimenta uma tendência irresistível para o bem; e mesmo quando quiser praticar o mal, sua mente, que é a soma total de suas tendências, não lhe permitirá. Neste caso se diz que o bom caráter do homem já está firme.


E tal condicionamento é chamado de Karma. Da mesma forma que o cérebro é extremamente maleável e plástico na infância e conforme passa o tempo esta maleabilidade vai sendo perdida, dando lugar a uma rigidez, assim acontece com nossas ações e também com nossas percepções. Há uma tendência que faz com que esqueçamos da nossa liberdade inicial para agir e cristalizemos certos padrões de comportamento (e de pensamento, e de sentimento). E tal condição pode determinar como você se sente, como você percebe o mundo e também como você age. Como nos dois parágrafos acima retirados do Karma Yoga, há um condicionamento bom e um condicionamento mau. E é nisso que a auto ajuda se baseia. E a minha crítica a essa abordagem (que farei em outro artigo, mas darei um pitaco aqui) é explicitada pelo próprio Vivekananda, na mesma obra, pouco mais adiante:


Há, todavia, um estado superior a este: é o desejo de libertação. Deveis lembrar-vos que a liberdade da alma é a meta de todas as yogas, e cada uma destas conduz ao mesmo resultado. Por meio das obras, os homens podem chegar ao estado que Buda alcançou em grande parte pela meditação e Cristo pela devoção. Buda foi um jnani ativo; Cristo um bhakta, porém ambos alcançaram a mesma meta. A dificuldade está em que a libertação implica inteira liberdade; liberdade de fazer o bem, tanto como de praticar o mal.

Contudo, as práticas que promovem a flexibilidade são muito úteis. Eu mesmo tenho experimentado uma bem simples e intuitiva, que promove um afrouxamento desta couraça psíquica e muscular (sim, muscular! Repare como o condicionamento mental afeta os seus gestos, a sua feição e tensiona certos músculos), permitindo assim uma espontaneidade maior.

Prossiga da seguinte forma:

Deitado ou sentado numa posição que o permita relaxar, mantendo a coluna reta, se liberte das preocupações que ocupam sua mente;

Pouse a atenção sobre a respiração. Não respire mais rápido ou mais devagar, não prenda, só observe. Procure sentir o caminho que o ar faz, perfurando suas vias aéreas e pousando na parte inferior do pulmão (respire pelo diafragma);

Perceba então seu corpo. Todas as tensões musculares. Procure relaxar uma a uma. Uma sensação de afrouxamento é percebida. Dê uma certa atenção aos músculos da face;

Esse processo costuma durar entre 5 e 15 minutos, podendo ser estendido, obviamente. Procure aplicar isso no cotidiano: quando perceber que há alguma tensão física e psíquica impedindo a espontaneidade, experimente fazer o exercício.

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