quinta-feira, 18 de julho de 2013

Em defesa da voz interior

   Imagine que você anda numa rua deserta, está vestido com suas roupas de trabalho e é seu primeiro dia. Quer, acima de tudo, agradar seus superiores e dar uma boa impressão. Mas olhando para o céu você vê que ele está coberto de nuvens, uma chuva intensa se aproxima, uma tempestade. Não há onde se esconder, nenhuma marquise, nenhuma loja, você está a pé e vai se molhar, sua esperança é correr, você tenta mas a chuva começa a cair, deixando sua roupa ensopada e você está irado com a situação, seu dia foi arruinado. A cada gota fica pior, você tenta lutar contra aquilo mas não consegue, quanto mais você corre, mais se molha. Até que você para, já não tem o que fazer, aceita a condição de estar molhado e seu primeiro dia de emprego arruinado, a chuva continua caindo sob seus ombros e você prossegue andando, triste com a situação, até que percebe algo diferente: Por mais que a chuva caia nas suas roupas, não há como se molhar mais do que já está, você chegou em um ponto em que a chuva não pode mais lhe afetar, está imune. A chuva cai, mas você não liga, caminha lentamente, molhado, mas seco.

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   Talvez o leitor, por ter lido o título desse texto e o pequeno ensaio acima, já tenha notado aonde quero chegar. Todos os dias eu procuro praticar meditação. Em alguns dias sou bem sucedido, minha mente objetiva vai sendo freada até o ponto em que estou em harmonia com o ambiente e minhas energias circulam como música pelo meu corpo, é lindo e contagiante. Acabo de meditar com a esperança de que nas próximas vezes poderei ir mais profundamente, explorando ambientes da minha psique onde jamais fui. Mas claro, o mundo é cruel em certos dias, o seu 'eu' de ontem não é o mesmo de hoje. Como eu costumo praticar sempre de noite, antes de dormir, acabo carregando a bagagem do dia, e muitas vezes meu dia não foi tão bom como esperado. Pensamentos rebeldes circulam pela minha mente consciente e ficam me atormentando na hora do relaxamento. Não preciso explicar pra ninguém o resultado, acredito que você já sabe a resposta: quando você está nesse estado, desista, ou você vai ficar frustrado! Pode até ser que você consiga quebrar a barreira e atingir um estado mental de calmaria, mas lhe garanto que é difícil, e se você não tem a disciplina necessária você certamente não conseguirá.

   Antes eu achava que uma forma eficaz de combater isso é lutando com todas as forças contra meus pensamentos: "uma hora deve parar" pensava. Não parava, talvez eu não tenha força de vontade suficiente, ou talvez eu seja um preguiçoso conformista que não consegue focar a mente na respiração. Sim, você está correto nesse ponto. Mas existe uma outra alternativa. Vale lembrar que isso não é uma 'muleta', uma forma de facilitar as práticas... Ok, talvez seja, mas não no sentido pejorativo da coisa. A proposta que lhe apresento é simples e direta, me veio através de uma sacada lendo um dos livros de Jung (no qual estou com preguiça de ir procurar o título, me desculpe!). Foi por isso que escrevi o pequeno exemplo acima, demonstra de forma análoga a chuva de pensamentos que caem sobre você em momentos de concentração e meditação. Quanto mais você tenta lutar, pior fica. A natureza dos pensamentos é o Caos, e não adianta querer enjaular um animal que está acostumado com a selva. É interessante colocar aqui uma citação de Israel Regardie do livro 'O Poder da Magia':
Solte completamente as rédeas da mente; muitos pensamentos hediondos podem entrar nela; você ficará espantado por ser-lhe possível ter tais pensamentos. Mas descobrirá que a cada dia as fantasias da mente se tornam menos violentas, a cada dia se tomam mais calmas. Nos primeiros meses, você descobrirá que a mente tem mil pensamentos, mas descobrirá que aquele número se reduziu talvez a setecentos e depois de alguns meses serão menos e menos, até finalmente a mente estar sob perfeito controle. Mas precisamos praticar pacientemente todos os dias. Assim que o vapor é ligado, a máquina deve funcionar e, logo que as coisas estejam diante de nós, devemos percebê-las; assim, um homem, para provar que não é uma máquina, precisa demonstrar que não está sob controle de coisa alguma.
    Não preciso dizer muito depois disso. Os pensamentos são parte de você, negá-los e combatê-los não é um ato sábio. Quando você menos esperar, verá que eles começaram a se curvar diante de sua vontade sem esforço de sua parte. Apenas observe, deixe que as gotas caiam sobre seus ombros, aceite a natureza dos fatos apenas por um instante, e diante disso os pensamentos aceitarão a sua natureza como um ser meditativo.

Diante dessas reflexões eu me lembrei de um vídeo que vi anos atrás e que se encaixa perfeitamente no tema:

Uma dica final pra aqueles leram até aqui: troque de roupa antes que pegue um resfriado! :)

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